domingo, 22 de julho de 2007

INTUIÇÃO E AS ARTES

Para abordarmos a interrelação entre intuição e arte vamos entrar num campo polêmico que é o confronto entre aquilo que podemos ver , sentir, comprovar, medir e registrar, e aquilo que acreditamos existir através de experiências pessoais, porém nem sempre fácil de explicar e demonstrar.
Nosso intuito não é radicalizar nem polarizar o assunto, mas tão somente, dentro do espírito deste seminário e do tempo disponível, mostrar rapidamente alguns fatores e definições que nos ajudem a tecer um raciocínio a respeito.
O conceito de intuição nos vem à mente de forma natural e expontânea, e na maioria das vezes não respaldada por critérios científicos.
Assim, vamos recordar algumas palavras relacionadas com o tema e que pertencem, ora ao vocabulário comum, ora ao glossário da psicologia. Iremos também apresentar alguns exemplos práticos para induzir a questionamentos à medida que formos desenvolvendo o assunto.
Iniciemos pela própria palavra tema deste trabalho:
Intuição (do lat. intuere)
Contemplação , sensação ou sentimento pelos quais se atinge ou se apreende em toda a sua plenitude uma verdade de ordem diversa (mas nem sempre) daquela que se atinge pela razão ou pelo conhecimento discursivo ou analítico.
De intuir : ver prontamente com o intelecto sem necessidade de racionalização ou prova.
Não devemos confundir com intuicionismo que é a doutrina filosófica segundo a qual somente a intuição permite apreender a realidade absoluta.
Imaginação (do lat. imaginatione)
Faculdade que tem o espírito de representar imagens
Faculdade de evocar imagens de objetos que já foram percebidos
Faculdade de formar imagens de objetos que não foram percebidos, ou de realizar novas combinações de imagens. (Posso nunca ter visto um elefante ,mas posso imagina-lo baseado em leituras, imagens gráficas ou simplesmente ter ouvido a respeito).
Faculdade de criar mediante a combinação de idéias.
Inspiração (do lat. inspiratione)
Ato de inspirar-se ou de ser inspirado, Resultado de uma atividade inspiradora, Pessoa ou coisa que inspira, Entusiasmo poético, Estro, engenho poético, imaginação criadora, talento
Criação (do lat. creatione)
Ato ou efeito de criar, o conjunto dos seres criados, obra, invento, produção.
Criatividade
Qualidade de criativo, capacidade criadora, engenho, inventividade
Premonição (do lat. praemonitione)
Sensação ou advertência antecipada do que vai acontecer, pressentimento
Circunstância ou fato que deve ser tomado como aviso; presságio.
Vale aqui lembrar do verbo Monir (do lat. monere), existente em português significando avisar para vir depor sobre matéria de uma monitória (que é um aviso com que se convida o público a ir dizer o que souber acerca de um crime).
Advertir, admoestar. Assim, pré-monição é um aviso prévio do que vai acontecer.
Cognição (do lat. cognitione)
Todas as atividades mentais associadas com o pensamento, conhecimento e recordação.
Aquisição de um conhecimento. Conhecimento, percepção.
A atividade mental associada com o processamento, compreensão e comunicação de informação.
Consciência (do lat. conscientia)
Atributo altamente desenvolvido na espécie humana por meio do qual o homem se percebe interagindo entre si e com seu ambiente.
A percepção de nós mesmos e do nosso ambiente.
Pressentimento.
Ato ou efeito de pressentir
Sentimento intuitivo e alheio a uma causa conhecida, que permite a previsão de acontecimentos futuros.
Intuição, palpite, presságio.
Percepção (do lat. perceptione)
Ato efeito ou faculdade de perceber.
Perceber (do lat. percepire)
Adquirir conhecimento de algo , por meio dos sentidos.
Formar a idéia de alguma coisa, abranger com a inteligência, entender, compreender.
Ver ao longe, divisar, enxergar.
Psicometria é o registro e medida dos fenômenos psíquicos por meio de métodos experimentais padronizados.
Percepção extrasensorial PES)
É a percepção sem o uso dos sentidos e os fenômenos por ela tratados são denominados de “paranormais”.
As alegações de fenômenos paranormais incluem as previsões astrológicas, a cura psíquica, a reencarnação, a comunicação com os mortos, as viagens freqüentes para fora do corpo.
Destas, as consideradas mais “respeitáveis” no meio científico, testáveis e relevantes para o estudo sobre PES, são as seguintes :
Telepatia - ou comunicação mente a mente, uma pessoa enviando pensamentos para outra ou percebendo os pensamentos de outra.
Clarividência - ou seja, perceber eventos remotos, como sentir que a casa de um amigo está em chamas.
Pré-cognição - ou perceber eventos futuros, como a morte de um político ou o resultado de uma competição esportiva.
Ligadas a essas temos a “psicocinese”, ou o domínio da mente sobre a matéria, como fazer levitar uma mesa ou influenciar o lançamento de dados.
Alguns dados são expostos a seguir não com o objetivo de negar a intuição em si, mas para dizer da importância de se realizarem estudos que possam levar a conclusões embasadas em fatos comprováveis.

As análises de visões psíquicas oferecidas aos deptos de polícia dos E.U.A revelam que elas não são mais acuradas do que os palpites dados por outras pessoas (Reiser, 1982 citado por Myers,David 1999).
96% dos cientistas da National Academy of Science são céticos em relação `a ocorrência desses fenômenos.
O mágico James Randi, ofereceu US$ 10.000 a qualquer pessoa que pudesse demonstrar “ qualquer capacidade paranormal” diante de um grupo de especialistas. Essa soma foi elevada em 1996 para US$1 Milhão para qualquer que provar possuir um poder psíquico genuíno sob condições apropriadas de observação. Esse desafio é feito há 35 anos sem que ninguém tenha conseguido resultados comprovados.
Assim, para haver credibilidade o fenômeno deve ser reproduzível e ter uma teoria para explicá-lo. Esse mesmo mágico, nesta semana que passou, submeteu especialistas em Homeopatia a testes de laboratório e estatísticos visando provar a eficácia constante dessa prática médica, que é muito difundida e tem inúmeros defensores e seguidores. No final, o prêmio não pode ser pago mais uma vez, em vista dos resultados negativos.
O fenômeno da Intuição , assim, é muito polêmico e as partes continuam cada uma a pesquisar e a apresentar suas razões.
A intuição ou a percepção, no entanto, nem sempre nos são fieis, como podemos ver nas duas situações seguintes:
Imagine alguém dobrar 100 vezes, sucessivamente, uma mesma folha de papel que tenha 0,1mm de espessura . Qual seria sua espessura final ? A resposta é o número 1 seguido de 30 zeros, equivalente a 800 trilhões de vezes a distância entre a Terra e o Sol.
O tabuleiro de xadrez possui 64 casas entre brancas e pretas.Se colocarmos 1 grão de trigo na primeira casa, o dobro desta na segunda, o triplo desta última na terçeira e assim sucessivamente, quantos grãos teremos na última casa? A resposta é o número 9 com 17 zeros à sua direita
Muitos consideram a intuição como um evento externo quase que sobrenatural, em que alguém passa a ter uma compreensão repentina sobre algo, de forma que esse alguém não tenha nenhuma interferência sobre o ato.
Porém os psicólogos em geral apontam dois fenômenos que ocorrem freqüentemente e que podem ser registrados e acompanhados:
A distorção denominada tendenciosidade da racionalização a posteriori. É como se disséssemos: “Já sabíamos desde o início”. Como exemplo podemos citar os economistas que via de regra acomodam suas análises àquilo que efetivamente ocorreu na economia.
O excesso de confiança no julgamento. Como exemplo, ao serem colocadas para decifrarem um anagrama (que são palavras com letras embaralhadas), as pessoas se comportam de duas maneiras distintas:
Quando já sabem a palavra chave, ao serem perguntadas dizem que solucionariam o problema em torno de 10 segundos.
Sem saberem antecipadamente a palavra chave, a média das pessoas resolve o problema em 3 minutos.

Agora que já falamos um pouco sobre a intuição e processos correlatos, vamos ver sua interrelação com a arte.
A origem da palavra Arte pode ser constatada na seguinte frase de Machiavel em sua obra “ História de Florença”: “Estes, assim que se reuniram, dividiram a cidade toda em Artes, e perante cada uma delas colocaram um magistrado que administrasse justiça aos seus integrantes; além disso, a cada Arte deram uma bandeira para que cada homem ali acudisse armado quando a cidade necessitasse”.
Arti, plural de Arte, eram,pois organizações juramentadas de pessoas da mesma profissão, em geral ligados ao artezanato que teriam surgido para defendê-los de um patriciado comercial então existente. Estabeleciam vários controles, entre os quais preços, salários, pesos e medidas e a qualidade dos produtos.
A Arte no sentido mais comum pode ser entendida como a criação humana de valores estéticos, tais como beleza, equilíbrio, harmonia, revolta, que sintetizam as suas emoções, sua história, seus sentimentos e sua cultura.
Cabe lembrar aqui a lenda mitológica de Mnemósyne, mulher de Titan, a filha do primitivo Deus do Céu, Uranus com a deusa Terra, Ge. Seu nome significa memória. Zeus, Deus supremo que residia no monte Olimpo, faz amor com ela por nove vezes consecutivas e ela dá à luz nove musas, que se tornam as deusas das finas artes, da música e da literatura.
Mas desde muito tempo antes da civilização grega o ser humano vem manipulando cores, formas, gestos, espaços, sons, silêncios, superfícies, movimentos e luzes com a intenção de dar sentido a algo, de comunicar-se com os outros. Para isso ele se utiliza de símbolos ou signos. A metáfora, assim formada com esses símbolos possibilita a criação representacional da idéia artística. A metáfora significa transposição, translação; consiste no uso de alguma coisa no lugar de outra. Exemplos:
Cruz por cristianismo
A cor vermelha significando pare (no trânsito)
O desenho de uma pegada, significando a passagem de alguém ou relativo a pedestre.
A arte abrange todas as atividades e aspectos de uma cultura em que se trabalha o sensível e o imaginário, com o objetivo de alcançar o prazer e representar ou desenvolver a identidade de um povo ou de uma classe social, seja mantendo a visão comum, seja apresentando uma imagem transformadora.
As produções artísticas são ficções reveladoras, criadas pelos sentidos, imaginação, percepção, sentimento, pensamento e a memória simbólica do ser humano. Assim, a liberdade de expressão é relativa, pois somos livres dentro de nossos próprios limites, condições e contexto, de forma consciente ou inconsciente.
Sabe-se hoje que o sentido da visão não depende somente do olho e do objeto focado. Depende também de toda a memória existente no cérebro humano. Esta matéria foi transmitida meses atrás pelo programa Fantástico da Rede Globo, através do Dr. Dráusio Varela.
E assim se dá com os nossos demais sentidos.
Mais do que a reprodução de animais selvagens reais , os desenhos e pinturas da arte rupestre nos falam da sensibilidade e da capacidade de abstração do homem pré-histórico. São imagens poéticas que expressam a sua percepção daquele mundo orientada pela imaginação.
E para efetivar sua representação do que está em sua imaginação, o ser humano utiliza-se de símbolos ou signos traduzidos em várias formas de linguagem para saber, compreender, produzir conhecimento e mostrar sua percepção do mundo.
Essas linguagens, verbais e não verbais, podem ser:
Oral, Gráfica, Tátil, Auditiva, Gustativa,
Artísticas tais como
Cênicas- Teatro,dança
Musical- Música, canto
Visual- Desenho, pintura,escultura,
fotografia,cinema
Temos a Literatura, a Arquitetura e o Artezanato. E não devemos nos esquecer da Arte eletrônica.
Como mencionamos no início a faculdade de percepção, e arte envolve percepção, vamos abordar o que se chama de adaptação perceptiva do ser humano.
Quando usamos óculos novos normais nos sentimos um pouco incomodados, porém dentro de pouco tempo nos adaptamos ao novo grau.
O que ocorrerá no entanto se usarmos óculos alterados de forma a transferir a localização dos objetos, por exemplo, para 40 graus à direita ?
Se estivermos jogando bola, faremos os lançamentos bem para a direita.
Os pintos de galinha nessas condições não se adaptam e, ao se alimentarem, continuam a bicar onde os grãos parecem estar
O ser humano ao contrário em bem pouco tempo se habitua e passa a jogar a bola na direção correta.
O que aconteceria se efetuássemos uma alteração ainda maior, como por exemplo fazer com que o chão ficasse em cima e o céu em baixo? Peixes, rãs e salamandras não conseguem se adaptar. No entanto gatos, macacos e humanos podem adaptar-se a um mundo invertido. Em 1896 o psicólogo George Stratton inventou e usou por 8 dias um equipamento ótico que transferia a esquerda para a direita e a parte de cima para baixo. Tornou-se assim, a primeira pessoa a experimentar uma imagem invertida quando estava de pé. Passou por dias de desconforto e náuseas, mas no oitavo dia já conseguia estender a mão para pegar alguma coisa na direção correta.
E para terminar, deixo aqui , para reflexão, algumas frases que ligam as coisas etéreas à razão, à arte e em particular à matemática:

VOLTAIRE (1694 - 1778) – “Nota-se entre os matemáticos uma imaginação assombrosa... Repetimos: havia mais imaginação na cabeça de Arquimedes do que na de Homero”
SANTO AGOSTINHO (354 - 430) – “Sem a matemática não nos seria possível compreender muitas passagens das Santas Escrituras”.
SÃO JERÔNIMO (342 - 420) – “Possui a matemática uma força maravilhosa capaz de nos fazer compreender muitos mistérios de nossa fé”.

Dessa forma, muitos são os fenômenos que ainda não compreendemos inteiramente e que aguçam nossa curiosidade, servindo ao mesmo tempo como motivação para continuarmos a pesquisar, rumo ao nosso destino traçado pelo G\A\D\U\

E termino com a frase de MÁXIMO GORKI:

“A ciência é a razão do mundo. A arte é sua alma”.

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Bibliografia
Intuição e Maçonaria (pág.73, Intuição e as Artes)
Gregório, Fernando César
Editora Maçônica A Trolha Ltda - Londrina/PR

A Língua no Mundo-Ensino de Arte
Martins, Miriam Celeste
Picosque, Gisa
Guerra, M.Terezinha Telles Guerra
Editora FTD S.A - São Paulo/SP

Introdução à Psicologia Geral
Myers, David
LTC-Livros Técnicos e Científicos EdItora S.A

Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa
2ª Edição 36ª impressão
Holanda Ferreira, Aurélio Buarque
Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro/RJ

Dizionario etimológico della lingua italiana
Ristampa 1998
Cortelazzo, Manlio e Zolli, Paolo
Zanichelli, Bologna

O Homem que Calculava
Than, Malba 44ª Edição
Editora Record – RJ /SP

História de Florença
Nicolo Machiavelli
Tradução de Nelson Canabarro
Musa Editora Ltda
São Paulo/SP

Who’s Who in Classical Mythology
Jessica Hodge
Smithmark,Publishers Inc
USA/New York
Printed in Hong Kong

Web Site www.históriadaarte.com.br
por Simone R.Martins/Margaret H. Imbroisi
e Márcio Lopes

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